segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Cúmulos, Piadas, Torradas e Fome

Hoje quando acordei  saí para tomar um cafezinho na padaria da esquina como sempre faço. Sentei no mesmo banco, dei bom dia às mesmas pessoas, e acompanhado de minhas tradicionais torradas,  abri o jornal. Não o mesmo. Estava cansado dos fatos que meu favorito jornal gostava de enfatizar: mortes, assaltos, miséria... Não queria saber de nada disso.  Não por hoje. Aventurei-me entre as paginas de esporte, li um pouco sobre carnaval, e finalmente encontrei a seção de piadas. Não que as procurasse, mas precisava rir de algo. Por fim, não satisfeito, encerrei minha refeição matinal com um belo sorriso forçado a moça simpática que me atendera. Levantei, e como de praxe,  coloquei a mão em meu bolso e peguei minha carteira, calmamente retirei o dinheiro e antes mesmo de esboçar um pagamento fui abordado por um garoto de 5 anos, talvez 6, rosto triste, um esfarrapado. Porem certo do que queria: uma ajuda. Uma ajuda qualquer, de um alguém qualquer, mas naquele momento, exatamente naquele instante era a minha. 
E logo eu que minutos antes fugia das desgraças do nosso país com a ajuda humorística de um jornal qualquer, acabei por me deparar a uma cena digna de discussão social e descaso político. Ofereci-lhe um lanche, ( era o mínimo que alguém sensato poderia fazer aquela hora do dia) e ele, nem pensou em recusar. 
Sentamos, e deixando o jornal de lado, notei que o humor daquelas piadas caiam tão mal quanto meu café da manhã fantasiosamente perfeito. Tentei definir a perfeição, mas cada vez que via o garoto devorar seu café como se fosse o último, minha agonia crescia, junto com um sentimento devastador de impotência dada a situação. Pensei no Brasil de uma forma mais abrangente, talvez como meu antigo jornal pensava. 
O país tropical, que poderia até ser abençoado por Deus deixou de ser belo por alguns instantes intermináveis. Voltei  a lembrar da pobreza, violência, desgraça, fome e vi no povo, nesse nosso povo corajoso,  esperançoso,  trabalhador, um sentimento de medo com um pequeno toque de desapontamento brasiliense. Um povo que abafado pelos gritos de “gol“ e pelas batucadas de samba, acaba, assim como eu, buscando distração em piadas que por mais sutis que sejam, retratam a nossa realidade. Uma boa piada é desenvolvida na base de cúmulos. Cúmulos que já atingimos a algum tempo, cúmulos que estão presentes em nosso cotidiano, em nosso país. Percebo por mim mesmo, que nosso Brasil, nosso país sublime, bonito por natureza, não deixa de ser um cúmulo, uma grande piada. 
Só que essa, não tem graça. 

2 comentários:

Unknown disse...

Muito bem escrita ;)

L. Sathler disse...

"O país tropical, que poderia até ser abençoado por Deus deixou de ser belo por alguns instantes intermináveis."

Forte. Texto incrível e real, não essas baboseiras moralistas que a gente lê por aí.
Parabéns, lindinho! rsrs

Beijos!