sábado, 14 de março de 2009

Amanda

Você sempre lia minhas histórias... e por mais que não gostasse, sempre dizia que estavam lindas. Te conheço. Sempre perguntou quando ia escrever alguma coisa pra você... Em pensar que nem nos despedimos, e que quando penso nisso imagino você fazendo carinha de deboche e dizendo com tom de provocação " Ahhhh menino Jones, não gosto de despedidas" Sua cara, dizer isso pra mim sempre. Você me fez gostar de Blitz e outros hits. Tinha sempre como resposta o refrão de alguma musica, as vezes, buscava no fundo do baú. E como eu ria com isso. Inteligente, doce, cheia de personalidade. Dedicada, estudiosa, vaidosa. Sempre arranjou um jeitinho pra tudo. Seu jeito " tá tudo bem" " deixa disso" me ajudou a construir minha personalidade antes tão afoita e trapalhada. E sempre, com um sorriso, só seu. Sorriso esse, que fazia você fechar os olhinhos e esticar a boca de orelha a orelha. Todas as vezes que nos encontramos, as noites de conversas no msn, os recadinhos no orkut, as tardes de domingo que com você voavam enquanto criticavamos uma ou outra coisa na tv, ou enquanto falavamos sobre o futuro das nossas carreiras... Só você se equiparava a mim nesse quesito. Só você conseguia bater de frente comigo, e mudava totalmente o meu ponto de vista. E eu gostava. Aprendia. Vejo muito de você no meu espelho. E isso me fortalece. Sempre fortaleceu. Hoje, dois de março de dois mil e nove, pensei em você o dia inteiro. E algumas dessas vezes, quando estava sozinho, eu me arrepiava. E tenho certeza de que era você, colocando a cabeça no meu ombro meio de lado, olhando pra frente comigo, segurando meu queixo, levantando minha cabeça como sempre fez... e dizendo: "ahhh deixa disso menino jones" Teu sorriso de canto, mostrando só a parte de cima dos seus dentes, aquele seu batom bem vermelho, suas pregadeiras, pulseiras, seu jeito Amélia que você nao cansava de ovacionar. A dor Amanda, é tão forte. Saber que seu perfil nao vai estar mais nas visitas recentes do meu orkut. Que a janelinha laranja do msn nao vai mais piscar com o nome de Amanda nanet, que o meu celular nao vai mais receber ligações de banquete com aquela voizinha " oiiiiiiiiii menino jones". Vai ser complicado... o que ameniza a minha dor, é saber que você levou muito de mim, e deixou muito de você. E que com certeza, deixarei de te encontrar por acaso pois de agora em diante, você vai estar sempre caminhando do meu lado. E claro... no maior estilo Amanda de ser... tranquila... calma... sorridente... e quando eu começar a me sentir pra baixo, um ventinho vai trazer bem pertinho do meu ouvido um som mais ou menos assim: " deixa disso... menino jones...." :( eu ia te agradecer por tudo agora... mas não gostamos de despedida, nao eh mesmo?

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Cúmulos, Piadas, Torradas e Fome

Hoje quando acordei  saí para tomar um cafezinho na padaria da esquina como sempre faço. Sentei no mesmo banco, dei bom dia às mesmas pessoas, e acompanhado de minhas tradicionais torradas,  abri o jornal. Não o mesmo. Estava cansado dos fatos que meu favorito jornal gostava de enfatizar: mortes, assaltos, miséria... Não queria saber de nada disso.  Não por hoje. Aventurei-me entre as paginas de esporte, li um pouco sobre carnaval, e finalmente encontrei a seção de piadas. Não que as procurasse, mas precisava rir de algo. Por fim, não satisfeito, encerrei minha refeição matinal com um belo sorriso forçado a moça simpática que me atendera. Levantei, e como de praxe,  coloquei a mão em meu bolso e peguei minha carteira, calmamente retirei o dinheiro e antes mesmo de esboçar um pagamento fui abordado por um garoto de 5 anos, talvez 6, rosto triste, um esfarrapado. Porem certo do que queria: uma ajuda. Uma ajuda qualquer, de um alguém qualquer, mas naquele momento, exatamente naquele instante era a minha. 
E logo eu que minutos antes fugia das desgraças do nosso país com a ajuda humorística de um jornal qualquer, acabei por me deparar a uma cena digna de discussão social e descaso político. Ofereci-lhe um lanche, ( era o mínimo que alguém sensato poderia fazer aquela hora do dia) e ele, nem pensou em recusar. 
Sentamos, e deixando o jornal de lado, notei que o humor daquelas piadas caiam tão mal quanto meu café da manhã fantasiosamente perfeito. Tentei definir a perfeição, mas cada vez que via o garoto devorar seu café como se fosse o último, minha agonia crescia, junto com um sentimento devastador de impotência dada a situação. Pensei no Brasil de uma forma mais abrangente, talvez como meu antigo jornal pensava. 
O país tropical, que poderia até ser abençoado por Deus deixou de ser belo por alguns instantes intermináveis. Voltei  a lembrar da pobreza, violência, desgraça, fome e vi no povo, nesse nosso povo corajoso,  esperançoso,  trabalhador, um sentimento de medo com um pequeno toque de desapontamento brasiliense. Um povo que abafado pelos gritos de “gol“ e pelas batucadas de samba, acaba, assim como eu, buscando distração em piadas que por mais sutis que sejam, retratam a nossa realidade. Uma boa piada é desenvolvida na base de cúmulos. Cúmulos que já atingimos a algum tempo, cúmulos que estão presentes em nosso cotidiano, em nosso país. Percebo por mim mesmo, que nosso Brasil, nosso país sublime, bonito por natureza, não deixa de ser um cúmulo, uma grande piada. 
Só que essa, não tem graça.